No inicio dessa semana, ao pegar o transporte para a faculdade(topic) num horário diferente do que costumo pegar, sentei bem na frente, onde também não costumo sentar, quando notei algo que fez a diferença no percurso até meu local de destino: o cobrador. Bonito, cheiroso, rostinho capa de revista? Não. Isso tem aos montes nos corredores da facul todos os dias. Esse moço tinha uma feição de meio que desiludido e a mesma me remetia a histórias desses eternos amantes não realizados, sei lá porque. Juro que não conhecia aquele rosto de ponto de ônibus algum. Parecera tão prestativo com os passageiros ao ajudar idosas com suas sacolas, mas isso ainda não foi o mais marcante. O que chamara minha atenção é que ele cantava muito, a viagem toda. Um repertório costurado em Cazuza, Gal, Caê. E sua voz é tão bonita (me lembrou Renato Russo, juro a você). Ao longo da viagem, quanto mais distraido ficava, mais alto cantava e sua voz tomara aquele ônibus de serenidade tão incomum, mas que deixara a viagem tão mais gostosa, rs. O motorista olhava para ele com uma cara de quem não via nenhuma novidade, mas também não condenava.
Uma das músicas que cantou, parecia tê-lo tirado daquele microônibus, o levando além, em algum canto que nenhum dos presentes poderia alcançá-lo. Parece que consigo vê-lo aqui, agora, ao meu lado cantando:
"Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água
Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga..."
Não conseguia parar de olhá-lo, embora quisesse disfarçar. Sublime.
Viajei.. Não com ele, mas viajei...
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