domingo, 31 de março de 2013

Alma nua - Vander Lee


Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima

Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
...
Viver menino, morrer poeta

sexta-feira, 29 de março de 2013

Não basta!



Porque há dias que café não basta. Nestes, me regue a um bom vinho.
Por que há dias que o centro não basta. Me leva a um canto, (escuro) se possível.
Porque há dias que uma ligação não basta. Me contempla com sua presença?
Porque há dias que ansiarmos um feriado basta, mas uma "quarta qualquer", nos surpreende.
Poque existem momentos em que um convite cairia muito bem, mas deixaria de ser bastante, quando um rapto seria perfeito.
Porque há dias que tudo me basta, mas em outros sou insaciável. E nestes, quase tudo não basta.

domingo, 24 de março de 2013

...



A vergonha não é de senti-la, mas os motivos que causaram distancia, e tira a ombridade e coragem de olhar nos olhos e dizer: "Como queria te encontrar, e conversar, e explicar, e resolver, e te pedir desculpas. Quiçá selar com um abraço..."
É vergonhoso ter vergonha de uma saudade, mas sinto vergonha até da vergonha de sentir... O que torna isso tudo cada vez mais vergonhoso...

Desdouro


Deixar de expor pelo teu parecer, não cabe.
Tá escrito, já foi pensado, concebido, o texto já foi parido... 
E hoje ela tem novamente os holofotes
Porém, diferente das demais cenas, veste-se de vergonha
E onde já se viu Saudade trajar-se de vergonha?





sexta-feira, 22 de março de 2013

Caixa Preta

Há dias que são assim...
De remexer nos escritos
Revisitar rascunhos
Uns divulgar
Outros deletar
Rir de si...
Há dias que são assim...
E quando escutava meus pensamentos, sentia-me despida.
Despida dos receios, de legendas...
E não há para onde fugir, 
Sinto-me alem de nua, crua.
Crua como a verdade que estamos inseridos.

Incômodo

Tentou detectar o que fazia do seu dia tão estranho e daria para alistar tranquilamente as coisinhas que a incomodavam.
Desta vez não foi a cólica;
Nem o excesso de leituras pendentes;
Não foi os planos adiados;
Nem o feriado sem Sol para praia e sol com os amigos;
Pegou papel, caneta e ficção para escrever sobre o tal incômodo. Foi quando percebeu que o que incomodava não era nada que estivesse ali presente, e rascunhou o diagnóstico final do tal incômodo em poucas palavras: "Minha angústia: Sua falta".

sexta-feira, 8 de março de 2013

Triceria


A dor
O gato
O oficio

A dor me toma
O gato dorme
O ofício espera

A dor aumenta
O gato desperta
O oficio lembra

Olvido



A dor olvida
O gato grita
O oficio indica


Ah, oficio indicador!
Ah, oficio gritador!
Ah oficio! Me tomou...