terça-feira, 10 de julho de 2012

Pós-80





-Cê lembra amor, das coisas que achávamos loucura, e ficávamos encantados por escutar um do doutro e nunca ter escutado aquilo de mais ninguém?
-Lembro sim.
-Sabe, meu bem... Quando eu ficava com o olhar perdido quando você estava falando, e parecia estar em outro lugar, você perguntava: Que foi, hein? Tá pensando em quê?
-Hum... Você respondia: "Nada", na maior cara dura... Que tem?
-Muitas vezes era mais uma coincidência de pensamentos, mas como já nos parecíamos tanto que poderia parecer que estava dizendo aquilo só para te agradar; eu ficava calada, te admirando, surpresa; na verdade assustada com a forma como tudo se encaixava tão bem.
-Rs... Você era louca, amor.
-Ainda bem. Você também era. 
-Lembra que não queríamos mais ter filhos pela crueldade que ja imperava nesse mundo, mas quando nos conhecemos queríamos uma criança com traços nossos, e quando achávamos que não teríamos mais volta abrimos mão desse plano?
-Sim... 
-Já tinhamos até nome para as crianças, idealizado quarto para minha filha e sua irmã na nossa casa, planos de viagem.
-Sabe... Eu nunca desacreditei que isso fosse acontecer. Apesar de todos os intervalos, de toda dor, de tantas voltas... Eu nunca desisti de nós.
-Me lembro bem que quando eu dizia "Adeus", você dizia "Até mais" em sua teimosia.
-Ninguém mais acreditava que fôssemos voltar um para o outro... Nem você, confessa!
-Rs... Olha só, tive meus motivos, Amor. Você me fez abrir mão de tudo que eu mais queria no momento, sem entender porque fazer aquilo, e só com o tempo entenderia. Queria que eu sentasse e esperasse o tempo passar?
-Queria que você entendesse que algumas respostas só o tempo traz.
-É... eu era muito impaciente... Mas olha o fruto da paciência: Hoje temos netos lindos, conhecemos os sete emirados juntos, visitamos territórios isolados, fizemos novos laços...
-E eu que já julguei por achar que pretendia se afastar de mim por 8 anos...
-Eu sempre imaginei que teríamos muito para contar após 80...
-Obrigada por imaginar, por acreditar, por ir atrás de mim e insistir em uma chance para nós apesar de tantos tombos. Apesar de eu não mais acreditar em você. Valeu a pena, amor. E se fosse para alcançar tudo que construímos hoje, outra vez. Reviveria cada momento. Porque todo engano, desentendido, encontro e desencontro, foi movido por amor.
-Rs...
-Que foi, hein? Tá pensando em quê?
-Nada... (rs) E esse final de semana, vamos passar na casa de qual das crias, hein?
-Esqueceu, mulher? Esse é o final de semana que todos eles vem para cá.
-Que lindo! Tinha esquecido, amor.
-Eu sei...
-Obrigada por lembrar... Hoje teremos cheiro de sorriso de criança pela casa. Que bom...E qual das viagens contaremos hoje?
-Porto Seguro?!
-Fomos separados. Quer dizer... Eu fui antes e você, quando foi novamente não foi comigo. Foi com uma amiga, não lembra?
-Oh, meu bem. Desculpa... Podemos contar a de Jericoacoara.
-Não, meu bem. Pode contar a de Porto, rs. E não pula detalhes. Nossos filhos e netos precisam saber dos intervalos... E por favor, não menospreze o papel da sua amiga nessas crises. Poucos são companheiros como ela foi/é. Ela poderia vir para cá hoje também, né? Ela faz parte da nossa história
-Será que ela pode?
-Como saber sem chamá-la? Me deixa levantar, amor. Vou ligar para ela.
-Ei!
-Hum...

-Te amo muito!
-Também te amo... Cada dia mais... Por estes e pelos próximos 80. 

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