quarta-feira, 27 de julho de 2011

Quantos complementos forem necessários... Quantos olhares forem precisos...


          Semana passada estive em primeiro contato com o texto Orientação dos gatos, de Julio Cortazar e quando me foi perguntado sobre seu assunto, respondi que explicava sobre uma espécie de catarse, que tratava do efeito que a arte pode ter em nós. Após a segunda leitura conclui que tratava-se da relação entre ele(autor), Alana(sua esposa) e Osiris(o gato) tendo como complemento a arte. Li a terceira vez, e me senti afogada num ignorância infinita, não entendia mais nada, cada frase leava a contradição das antigas conclusões. Após perder a conta de tantas releituras, percebi um pouco do que está por trás de todas aquelas palavras e resolvi compartilhar.
           O cara(eu-lírico) estava em busca de conhecer sua esposa por completo. Não aceitava o fato de compreender seu gato, mas achar que entre ele e sua esposa algo como uma barreira invisível atrapalhava tal compreensão. O marido acreditava que ela o olhava fixamente mas que seu olhar escondia mistérios que ele gostaria de desvendar mas não sabia por que caminho seguir. A arte os aproximavam porque ele contemplava seu olhar, seus gestos, sua feição ao escutar musicas ou apreciar um quadro, e tais reações a revelavam ora serena, ora intrigada. Ao encerrar o texto, descreve em minúncias suas expressões, mas por fim, assume que ao observar um último quadro, seus olhos ficaram tão vidrados que é como se ela  tivesse ido e não mais voltado. Seu esposo por sua vez, não conseguia enxergar o que a fazia pairar.
          Não consegui parar de pensar nessa leitura e cá desse ângulo cheguei a conclusão que seria impossível para o tal moço saciar sua curiosidade. Como conhecer alguém por completo? Pra que? Quem é completo? E se alguém fosse realmente, que graça teria desvendar o mistério e segredo do que lhe encanta? 
          A completude é uma ciência que não compete a nós humanos. Sempre temos a acrescentar e ser acrescentado ainda que não percebamos. Toques, olhares, perdões, discussões, migalhas, pessoas, a arte interessam-nos por nos complementarem(reconheçamos ou não). E quem afirma ser completo é um dos mais imcompletos seres por não permitir-se complementar com o que o cerca. Somos como estatuas multiladas precisando de reparos e os que pasam por nós nessa jornada chamada vida são artesão que fazem reparos em nós. Uns mais mais hábeis que outros, acabam por retocar-nos, fazer-nos mais nós. 
          Somos o que somos porque algo ou alguem nos complementa. E no seu caso, o que te faz você? O que te complementa? O que permite acrescentar-se e o que acrescenta?

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