sábado, 25 de maio de 2013

Crônica- Morna pra ser Moderna


Ontem o dia foi cheio... Como num conto: Contido do presente e do ausente. Do explícito e do oculto. 
Uma oficina de conto com o escritor Mayrant Gallo, que fomentou ideias sensacionais, e despertou um desejo enorme de escrever mais uma crônica... Sobre o que? Pensei em escrever sobre a relação entre amor, paciencia e respeito(até então, tema do meu dia); mas o lirismo me pegava pela mão e quando eu pensava em escrever até o final da linha, ela quebrava e iniciava outra. Fez-se poema, minha prosa. Não rascunhei em papel, nem digitei. Mas a ânsia persistia em soprar em meu ouvido: "Escreve, moça... Vai te fazer bem. Pode fazer bema alguém".
Passado engarrafamento Cabula-Retiro-Sete portas-Baixa dos Sapateiros.
Cenário: Pelourinho. Companhia: O Céu. Um desejo: Ligar. O feito: Esperar.Enquanto esperava as ideias fervilhavam e causavam convulsão por dentro. O que escrever?
De repente, começou a chover... Caiam pingos de expectativas, drama, ansiedade, preocupação, riso, lágrima, saudade... Pingavam sobre o papel, e sem que eu esperasse, lá estava a crônica, sobre a folha em branco. Crônica de pingos...
Dobrei a folha não mais virgem. Agora, pingada, cronicada, e segui. 
Subi a ladeira do Pelô... Pensei em escrever sobra as pessoas, o colorido, os moradores, o paralelepípedo e como isso me excitou um dia, e como hoje não mais.
Já do Lacerda, pensei em escrever sobre dependência, insegurança, solidão... Apreciei a cidade Baixa... Olhava em direção aos Mares, Bonfim... Mas ao diminuir o Zoom, logo abaixo do Lacerda, a cena era de um morador acendendo o "soma" do dia. Cada um abstrai como pode, e se meu "soma" era o espetáculo que me fazia esperar sozinha, a vagar, por mais de uma hora por aquelas ruas, o dele era imediato, e precisara apenas de fogo... A observação foi interrompida pelo susto de uma estranha ao suspeitar de um assalto, que em minutos seguintes, contava sobre visita à França, e sensação de insegurança ser cada vez mais comum na capital baiana. Eu, escutava...
Despedidas, retorno ao teatro. 
A dose foi de drama, muito forte por sinal... Situação vivida por um garoto na União Soviética na década de 90. Dali, daquela cadeira, sentia como se os holofotes estivessem em mim. Desnudada, conseguia visualizar tudo que fora encenado, vivenciado nas ruas em que passei instantes antes. Vi a União Soviética numa escala Brasil-Nordeste-Bahia-Salvador-Cidade Alta-Pelourinho-Vielas. Quis escrever sobre isso. Quis mais ainda após bate-papo com o ator ao terminar o espetáculo...Marcar em papel as intertextualidades com o que visualizava ali, parecia necessidade. Um dedo de prosa com mais dois doidos, que como eu, foram assistir um espetáculo sozinhos, rs. Um casal, e ouvir suas impressões me inspiraram ainda mais. A ideia permaneceu. Até que cheguei no Comércio, após descer o Lacerda, e esperar o ônibus que me levaria até o bairro onde moro, meu bairro quase-Br, quase-Suburbio. O ônibus para o bairro-quase, levou mais de 40 min, para passar e já passavam das 22h. Nesse ínterim, não teve como passar despercebido quão cheios desciam os ônibus. E os mais lotados, eram os que mais tinham passageiros para entrar. Os que seguiam para o subúrbio, diga-se de passagem. Num dele, um amigo muito querido, sentado na ultima cadeira do ônibus. Não me viu no ponto de ônibus. Estava sob efeito do seu soma: Um Smartphone. E os ônibus passavam cada vez mais sortidos. Em um deles, todos os passageiros sentados na ultima fileira dormiam. Em outro, as pessoas pareciam fundidas de tão próximas umas às outras. Estranhos, desconhecidos. Agora, o próximo mais próximo: um passageiro a mais. Sei lá... As vezes parece que dentro do ônibus coletivo a identidade é perdida... (Pano para manga, Azeite para o acarajé, Pizza para o Senado...). Enfim, isso me surgiu como tema também e as ideias começaram a ebulir. Até que, o coletivo para o "bairro-quase" também chegou. Entrei, me acomodei, em pé, claro. E ali, fui mais uma... 
Em casa, cansada, preocupada com o desejo de ligar não materializado, com a chamada que não houve no celular e com o que podia ter acontecido do ladelá... Que parte escrever? Sobre o que publicar? Nem tico, nem teco. Nem Dodô, nem Osmar. Nem acarajé, nem abará. Nem Tom, nem Vini. Não quis a dose do soma. Não queria olvidar, a ponto de perder as lembranças e fortes impressões. Só tinha um jeito de internalizar: Peguei uma porção de cada pensamento, botei no liquidificador (sim, porque baiano bota). Acrescentei colheres leves de crítica (em excesso poderia tirar-me o sono). Bati. Virei no copo. Engoli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário